Se você não tem um aparelho ereader mas ao menos já viu na internet a propaganda das três marcas vendidas no Brasil, certamente ficou admirado com a história da bateria cuja carga “dura meses” ou ainda com o fato que alguns modelos poderiam armazenar até “20 mil livros”. Este artigo procura analisar essas duas afirmações a partir da minha experiência com aparelhos da Kobo, Lev e Kindle, as três marcas disponíveis no país.
Bateria eterna
Os fabricantes anunciam que seus ereaders podem ficar até dois meses com uma carga de bateria. Na verdade, não é bem assim. Nunca abri nenhum desses aparelhos e, portanto, não sei qual a amperagem das baterias neles contidas. É fato que a tecnologia da tela e-ink é feita para gastar o mínimo possível de energia e cumpre bem sua função nesse quesito. Contudo, os ereaders tem alguns recursos extras que podem por a perder essa “infinitude de carga”. Todos vem com acesso wifi, e se esse acesso ficar ligado o tempo todo, lá se vai uma boa parte da preciosa carga da bateria. Boa parte dos modelos possuem retro iluminação por luzes de led. Mesmo gastando pouquíssima energia, esses ledes acabam gastando muito mais que a própria tela e-ink. Por fim, alguns modelos Kindle, além desses recursos, contam também com acesso a dados via celular (3g e 4g), outro poderoso gastador de bateria. Sendo assim, para que a bateria do seu ereader dure muito, é preciso calibrar a intensidade da luz para até 30% do máximo e deixar o aparelho no modo avião. O Lev e o Kobo possuem um recurso interessante, que desliga o aparelho após algum tempo de inativo. Desligado, tenho conseguido sim manter por mais de um mês a carga dos aparelhos (mas ele fica desligado!). Não percebi esse recurso na maioria dos Kindle, exceto no novo modelo Oasis, que é “ativado” toda vez que abro a capa após algum tempo parado.
Creio que a carga dos aparelhos é equivalente, coisa para uma semana de leitura intensa (entenda aí umas três horas de uso por dia), mas no modo avião. O pior dos piores no quesito bateria dos aparelhos que tive, foi o Kindle Oasis de primeira geração (não mais fabricado). Ele tinha o singular recurso de já vir com uma capa que também era bateria. Sem essa capa, um dia de leitura já exterminava a carga do aparelho. Usando com a capa, era igual aos demais. No novo Oasis esse recurso desapareceu, a capa (sem bateria) é vendida separadamente e, como já expliquei, ele se desliga após algum tempo sem atividade para preservar sua carga.
Mais de 20 mil livros na sua mão
Outro recurso exagerado pelas empresas é a capacidade de armazenamento dos aparelhos. Nesse caso é preciso fazer um parênteses: Kobo e Lev aceitam módulos de memória microSD de até 32 gigabytes e possuem 4 gigas (Kobo) e 8 gigas (Lev) de memória interna. Logo, em teoria, poderiam abrigar mais de 20 mil livros. O problema aí não é o espaço em disco, suficiente, mas a capacidade de o sistema gerenciar tanta informação sem levar minutos, ou mais de uma hora, para procurar um livro ou simplesmente ligar o aparelho. O Kobo, particularmente, tem um hardware muito lento e por isso é totalmente desaconselhável manter mais que uns 500 livros em sua memória. Também não recomendo manter livros em memória SD pois esses dispositivos ao acessar essas memórias, ficam mais lentos ainda.
O Lev nesse quesito, leva uma certa vantagem, pois conta com 8 gigas de memória interna, possui um hardware adequado e pode armazenar mais livros. Consegui colocar 3,5 mil livros no meu sem que ele demonstrasse sinais de colapso. Também reagiu bem no Calibre.
No caso do Kindle, a questão é mais simples. Ele não aceita cartões de memória. A maioria dos modelos encontrados no Brasil possuem 4 gigas de memória interna (todos menos o Oasis 2, com 8 gigas). O máximo que consegui colocar em um Kindle até agora foi cerca de 1,6 mil livros. Rodou tranquilamente, mas com alguma instabilidade ao se conectar com o Calibre (demorava para interagir e mostrar no Calibre quais os livros da sua biblioteca). No mais, funcionamento normal.
Finalizando, um ebook reader típico em 2018 pode receber cerca de mil livros e ficar mais de uma semana longe da tomada, mesmo sendo usado bastante diariamente. Mais que isso, só na propaganda. Ainda assim, é um bom companheiro para as férias, seja na montanha, na praia, no campo ou em casa.
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